domingo, julho 22, 2007

AQUARELA DO BRASIL - Luciano Pires

AQUARELA DO BRASIL - Luciano Pires
Brasil, meu Brasil brasileiro Meu mulato izoneiro, vou cantar-te nos meus versos...
Caiu outro avião no Brasil. Eu achava que nunca mais veria aquelas cenas de corpos ensacados na calçada. Ou os familiares desesperados nos aeroportos. Ou a expressão aparvalhada, incrédula e impotente dos funcionários da companhia aérea, incapazes de dizer algo além de um número 0800 impossível de conectar...
É quando nos sentimos um nada.
O Brasil, samba que dá, bamboleio que faz gingar O Brasil do meu amor, terra de Nosso Senhor Brasil, pra mim, pra mim, pra mim... Brasil pra mim. O meu Brasil.
Ah, mas o meu Brasil não é esse, não. Meu Brasil é outro, diferente. Meu Brasil respeita os brasileiros. Meu Brasil sua a camisa trabalhando. Meu Brasil leva as coisas a sério. Meu Brasil não foge à luta. Meu Brasil não abandona os brasileiros à sorte. Abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do cerrado Bota o rei Congo no congado Deixa cantar de novo o trovador A merencória luz da lua Toda a canção do meu amor...
Meu Brasil não é feito de políticos, empresários, técnicos ou catedráticos. Meu Brasil é feito de homens. Tem honra. Assume as responsabilidades. Quero ver essa dona caminhando Pelos salões, arrastando o seu vestido rendado
Brasil, pra mim, pra mim, pra mim...
Pra mim dói, viu? Dói aquela mãe desfalecida no aeroporto, que podia ser a minha. Aquele filho que podia ser o seu. Aquele amigo que podia ser nosso. A tragédia que podia ser evitada...
E dói o espetáculo que vem aí...
Já vimos esse filme: a culpa não é de ninguém. Como desta vez não temos gringos pra culpar, será do piloto que morreu...
Brasil, terra boa e gostosa Da morena senhora de olhar indiferente O Brasil, samba que dá, bamboleio que faz gingar O Brasil do meu amor, terra de Nosso Senhor Brasil, pra mim, pra mim, pra mim...
Afinal, o Brasil é o país onde a responsabilidade deixou de existir. Ninguém mais tem culpa de coisa alguma. A culpa é sempre do sistema. É da economia. É da meteorologia. É da física. É da matemática. De uma entidade intangível. Jamais dos homens. Pelo menos não dos que teriam a responsabilidade. Mas seriam esses, homens?
Ô, esse coqueiro que dá coco Onde amarro a minha rede nas noites claras de luar...
A aquarela desse Brasil tem uma cor só: vermelho. Não o vermelho do partido. Nem o vermelho da vergonha de quem deveria, poderia e evitaria a tragédia. Mas o vermelho do sangue das vítimas do acidente, da bala perdida, do assassino impiedoso, do hospital desaparelhado, da torcida enfurecida.
Ah, ouve essas fontes murmurantes Onde eu mato a minha sede E onde a lua vem brincar...
Nunca antes neste país, como na propaganda, tudo o que ouvimos terminou em “ia”: poderia, seria, acharia, mandaria, assumiria, evitaria, contribuiria... Ia, ia, ia... Brasil, essa é tua sina. Tudo aqui “ia”. É o Brasil do Futuro do Pretérito do Indicativo, onde a única certeza é que a incompetência, desonestidade e deboche que terminam em tragédias não se conjugam com “ia”. Se conjugam com “ão”.
Ah, esse Brasil lindo e trigueiro É o meu Brasil brasileiro Terra de samba e pandeiro, Brasil, pra mim, pra mim......Brasil!

segunda-feira, julho 02, 2007

Tédio

Que vida ótima
de tudo igual a porra nenhuma
que as pessoas esforçam-se para ser o que não são
e que quando conseguem
tentam voltar
e viram a mesma merda de sempre
viva!!!!
consegui rir da alegria
chorar com a tristeza
e ser?