segunda-feira, março 21, 2011

Tabu

Eu:

Eu sei o que eu quis dizer

Não você está errada, não estou falando só por que pareço bêbado

Quer dizer, talvez seja, mas já vinha há muito pensando em dizer isso

É verdade, estou realmente sentindo isso

Diga o que acha, mas não diga não

Se for dizer não é melhor que não me responda

Espera...

Uma não resposta, é pior que um não

Ou não?

Não sei. Só sei que isso aqui que me corrói, me dilacera, me toma as noites, que povoa os meus dias, que eu me desfaço, que eu me desfecho.

Não sei como dizer, então só agora, somente agora posso ter uma resposta.

Se for doer que doa.

O que você disse?

Espera, assim?

Dessa forma sem tanta poesia? Sem fogos de artifício? Frio na espinha e pé esquerdo levantado?

Ela:

Isso mesmo que eu quero... Esses nossos eternos agora criados dias burocráticos e noites de transgressões.

quarta-feira, março 16, 2011

Um anti-cotidiano

Lembro de ver nossos filhos no quintal,

Era quarta-feira e não tinhamos escovado os dentes ainda

Acabamos de acordar e fomos ver se já tinham nascido

Inda não, então ficamos eu e eles rindo no balanço na jaqueira

Você veio, e lembro de parecer com a minha mãe, que conseguia ser doce e nos dar uma bronca ao mesmo tempo

Entramos

Aperto o tubo de creme dental no meio

Ela, a mais novinha, me dá uma bronca

Uma linda bronca de uma linda menina

É assim pai...

Aprendo e repito o gesto na escova dele

Ele, muito parecido com você

Incrivelmente sisudo e doce, sorrí, e diz:

Pra cima e pra baixo, pros lados e não esqueça de escovar a língua

Esse era ele dando ensinamentos a uma pai não muito convencional

Esse era eu, barba por fazer, cabelo estranho meio começando a esbranquiçar

Cantava escovando os dentes uma música que não me lembro

Mas se chovia era Sing’in in the rain ou Please don’t care my sunshine away ou Chove chuva

Eles me imitavam, ríamos, gargarejávamos alto ao ritmo da música,

Você chegava, beijava-a, abraçava-o e apertava a sua mão (tratando-o como um homenzinho)

Fazia ondas em meu cabelos, me beijava e dizia que esses eram rituais que faziam a vida valer a pena...

Você lembra?

domingo, março 13, 2011

E eu que só queria ir ver o mar...
Joguei fora o crachá
Rí do chefe e dos colegas de trabalho
Eu nunca precisei deles
Nem de você, nem de mim, aliás
Sol em cima... chão embaixo... mundo óbvio
Mas eu só queria ver o mar
E nem sabia aonde estava indo
O quê de mim iria encontrar
Seguia o vento... andava à esmo
Ria da vida,
Enquanto todos engravatados,
Eu de short e chinelos
Achando que isso que era vida
E nem pensamentos prontos tinha ainda
O que mais poderia desejar?
Ah, ver o mar
Então... atravesso o asfalto... vejo ao longe o mar e sorrio... barulho de freio... gritos... vermelho... pancada... dor... frio... pessoas ao redor...
E eu só queria ver o mar
Então, agora, tudo já pode acabar
De pensar que hoje ao cedo eu era só um nome num crachá
Agora sou uma etiqueta no meu pé esquerdo

ps. Escrito a quatro mãos e dois Mouses... Eu e a Bruna